O Diabetes e minha vida: 37 anos depois

Há pouquinho tempo atrás completei 40 anos de vida. E também 37 anos de diabetes tipo 1.

Com esses “marcos” , muitos pensamentos começaram a surgir em minha cabeça . Gente! Será que já passei da metade do meu tempo de vida? Será que com o descuido com o Diabetes fiz o estrago que podia e agora é só cuidar bem dele? Como será que vou viver daqui para frente? Percebi uma certa nostalgia em mim. E percebi uma coisa também: estou com medo de envelhecer…..como será que vou ser ? Uma velhinha diabética e bem cuidada??? Como minha saúde estará daqui ha 20 anos ?

E gostaria aqui de compartilhar com vocês uma retrospectiva do tratamento ao longo desse tempo de vida. Como será que chego aos 40 de Diabetes? Quero chegar MUITO BEM!!!

O diagnóstico, os 10 primeiros anos de vida

Foto tirada no ano do diagnóstico

Foto tirada no ano do diagnóstico

Quando o pediatra ligou para meus pais, meu pai desligou o telefone e caiu no choro dizendo as seguintes palavras “Não vamos ver nossa menina completar 35 anos”. Meu pai era farmacêutico bioquímico mas, em 1979 não era muito tranquilo viver com diabetes.

Faltava pouco para completar 3 anos de idade. Injeção doía. As agulhas eram diferentes, cheguei até a

Keto Diastix media a glicemia pela urina

Keto Diastix media a glicemia pela urina

usar seringas de vidro! Protótipo de bomba assustava. Glicemias eram checadas pela urina. O primeiro glicosímetro era estranho e ponta de dedo também doía demais….eu fugia disso!!!

Minha ida a escola, na primeira tentativa, fracassou. Somente na segunda vez deu certo.. Entrei no ballet com menos de 4 anos: sabia-se que o esporte ajudava o controle. Aos 7 anos, a natação também passou a fazer parte da minha rotina.

Meu pai fazia refrigerante diet em casa. Não existiam diets nem lights. Tudo tinha que ser feito em casa e não era gostoso como uma bala de coco da minha avó.

Não foi uma infância infeliz. Eu era muito sapeca, não entendia muito bem a minha condição. Por isso, não costumava obedecer muito os meus pais. Mal sabia o quanto eu estava errada!

Prototipo de bomba de insulina nos anos 80

Prototipo de bomba de insulina nos anos 80

Dos 10 aos 20 anos: as conquistas, os diagnósticos

Essa foi a fase da rebeldia. Eu não queria, de jeito nenhum, fazer parte daquele universo, o dos diabéticos. Porque eu não poderia comer doces? Porque tantos exames, ir ao médico? Que saco!

No final dos anos 80, chegaram os primeiros diets: o Diet Dolly, os refris da Antartica. Até

Vitajet: insulina sem agulha

Vitajet: insulina sem agulha

um equipamento de injetar insulina sem agulha ( que doía absurdo, dava subdosagem e deixava hematomas). Mesmo com tantas novidades, eu não queria saber de me controlar direito. Era muito rebelde. A adolescência foi um terror, coitados dos meus pais!

Com o endocrinologista, testamos algumas insulinas , inclusive as da Biobrás, laboratório nacional, que fabricava uma insulina – já humana – misturada ( NPH e Rápida), como a 80/20 e a 70/30. Ganhei outra glicosímetro que raramente usava ( porque???).

Quando entrei na faculdade, em 1995, voltei para São Paulo estudar e, em um ano , apareceram as complicações em função dos abusos: retinopatia e nefropatia. Foi por pouco que não perdi a visão.

Quase tive que trancar a faculdade, fiquei um tempo sem exercício por conta de estágios, e fui praticamente salva pelo meu primeiro nefrologista: ele me levou em uma unidade de hemodiálise – eu não queria aquilo pra mim

Dos 20 aos 30 anos: foco no profissional, o preço do descontrole

Os meus descontroles praticamente foram salvos quando fui convidada para participar do protocolo da Insulina Inalada. Foram cerca de 5 anos de estudo recebendo os insumos, com o acompanhamento médico pela equipe da Unifesp ( Centro de Diabetes) , ganhando mais consciência de que precisava me cuidar.

A Lantus e Humalog melhoraram muito o meu tratamento

Depois de toda a vida usando NPH, conheci a revolucionária Lantus, além da Humalog. Além disso, as seringas deram lugar às práticas canetas de aplicação. Nada mais de viajar com isopor para lá e para cá. Enfim, aquelas glicadas altíssimas começaram a baixar.

Trabalhava muito, minha carreira no Marketing estava indo a pleno vapor. Estudava muito, trabalhava, fazia muito pouco esporte. Quando passei a coordenar eventos médicos ( minha paixão), a loucura da vida de eventos, viagens, reuniões, fizeram mais uma vez, eu deixar o Diabetes em segundo plano e a retinopatia progrediu. Essa foi uma das contas mais caras pelo meu segundo descuido: foram 3 cirurgias, uma delas de descolamento de retina. Outra, aos 32, para catarata.

Dos 30 aos 40: Diabetes – a redenção e a nova vida

Aos 32 anos, tive que repensar minha vida: eventos, falta de rotina, vontade de ser mãe, sonho com a carreira executiva de farmacêutica. Como seria minha vida de agora em diante?

O esporte passou a fazer parte da rotina para ajudar no controle

Não voltei para o mercado como antes. Passei a levar uma vida mais regrada, fazia esportes todos os dias, com horários mais flexíveis, mais tranquila.

Ao contrário do que muita gente fala em tom de ironia, o casamento para mim trouxe inúmeras vantagens! A estabilidade emocional, a tranquilidade em ter nossa casa, os cuidados do marido me ajudaram muito no controle.

Perdi meu pai aos 34 anos. Foi um baque, perdi o chão. Pensei várias vezes que queria ter ido embora junto. E dali em diante, perdi o cara que sabia tudo sobre mim. O meu farmacêutico particular. Me sinto órfã disso até hoje….sei que a vida é assim. Mas é bem complicado!

Em 2012, meu marido sugeriu montar um blog. Estudei, procurei, e criei o Clube do Diabetes. No mesmo ano, conheci muitos outros blogueiros e aos poucos, fiz novos amigos. Entrei para o universo do qual evitei toda a minha vida. No ano seguinte, decidimos que eu colocaria a bomba de insulina.

Que revolução!!!! Todo aquele receio de usar aquela “coisa” pendurada em mim foram derrubados! Hoje, depois de 2 anos e meio, posso dizer que ela estabilizou meu controle, apesar de ele não estar tão lindo nesse momento.

Hoje, o diabetes não é mais o meu inimigo, meu grande problema. Ele é sim, algo que sei que vou carregar pelo resto da minha vida, que pode me trazer qualidade de vida , disciplina, novos amigos, apesar de, junto com essas coisas boas, eu ter que carregar uma bagagem permanente pelos meus abusos da infância e adolescência.

Nasceu o Clube do Diabetes

Nasceu o Clube do Diabetes

Como será agora?

De agora em diante, quero pensar mais no futuro. Tenho medo de envelhecer mal. Quero pensar nisso com bastante foco. Prometi que não vou relaxar tanto com o esporte e com a alimentação, bases fundamentais no nosso tratamento. Farei agora meu check up dos 40. Quero ver a vida com olhos mais otimistas. Tenho muito para ver ainda, com a tecnologia, os tratamentos, tudo o que teremos de novidades para um futuro próximo, ou nem tanto assim. Quero estar bem para tudo que ainda vai acontecer! E chegar aos 40 anos de doença, se o Cara lá de cima e a tecnologia permitirem, vivendo a vida muito melhor do que hoje. Quem me acompanha??? 🙂

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